Segunda-feira, 10 de Agosto de 2009

Se há coisa que não compreendo

 São aqueles variados serviços para telemóveis que, aparecem inúmeras vezes anunciados tanto em televisão, sites na internet, jornais, portas de casa de banho, etc.

 

 Olha estes anúncios como é óbvio, oferecem toda uma panóplia de serviços, desde músicas de artistas de mérito duvidoso, até assertivos palpites sobre a morte do cliente. O que me deixa uma duvida: Se a maioria das pessoas não quer saber que uma relação acabou via telemóvel, porque raio irá querer saber que a sua vida irá acabar via telemóvel? Enfim paradoxos.

 

 Quanto ao mercado do “barulho por encomenda”, desenganem-se os incautos que julgam que tal mercado se restringe pelas músicas do Tony Carreira (é só um exemplo, não há nada de mal com… Desisto, nem consigo acabar a frase). Desde um despertador demasiado agudo que repete o nome do cliente incessantemente até ao pai Natal com flatulência (em casos normais eu iria inventar fontes de poluição sonora totalmente ridículos e surreais para fins de entretenimento, mas neste caso fui ultrapassado pelos brilhantes criativos por detrás de tamanha barbaridade que, efectivamente comercializam semelhante produto da sua genialidade). Talvez um (sim porque um titulo desta envergadura não pode ser entregue de forma leviana) dos mais surreais “toques” a ser comercializado era o som de um qualquer individuo a trautear o mais básico toque de telemóvel (tanana tanana tanananana). Porquê? Para quem? Se eu, por infelicidade do destino, conhecesse alguém que gostasse de imitar toque de telemóvel, tentaria evitar essa pessoa e o seu “talento”. Quão baixo na cadeia da dignidade alguém tem que descer para ter como trabalho “cantor cover de toques de telemóvel”.

 

 Como não poderia deixar de ser, a pornografia deixa a sua marca também nesta forma de comércio. E, aparentemente resigna-se a algo genérico e mainstream (porque convenhamos, ver um anuncio que diz com entusiasmo e ênfase “veja esta bela moça, vestida de urso a roçar-se neste pinguim de pelúcia, enquanto trinta anões vestidos de moços de colégio lhe atiram pequenos ursos goma de sabor a morango, e uma senhora de idade observa-os enquanto produz lindos vasos de barro” poderá não apelar ás massas). Ainda assim não pude deixar de notar que um dos anúncios apelava á testosterona do seu público com as denominadas: “Lolita, Prima da Lolita, Irmã da Lolita, Tia da Lolita”. Duas perguntas (para lá do instintivo porquê?) porque raio o incesto se tornou sensual? E desde quando a industria pornográfica se tornou demasiado preguiçosa para inventar nomes? Dá um ar de grande desleixo, não? Quer dizer, que vontade terá o cliente de demonstrar o seu amor pelo próprio, quando o incentivo para tal demonstração, mostra desprezo tal que nem se dá ao trabalho de pensar em mais que um nome?

 

 Mas a jóia da coroa de toda esta linha de produtos, é sem duvida alguma a “máquina de peidos”. A épica e eterna “máquina de peidos”. Quem já utilizou o youtube muito provavelmente já se cruzou com o anúncio da (e não consigo enfatizar espectacular o suficiente) “máquina de peidos”, mas para quem não está familiarizado com a temática, passo a explicar:

 

 A “máquina de peidos” (segundo reza o anuncio) é basicamente uma “slot machine” virtual onde o resultado é sempre três imagens alinhadas de nádegas e uma espécie de fumo por debaixo das mesmas (se vem com acompanhamentos sonoros e olfactivos não sei, o anuncio não é assim tão especifico). O anuncio minimalista (porque francamente pouco mais há a acrescentar) afirma pomposamente “máquina dos peidos: põem toda a gente a rir”. E, num canto do anuncio com letra pequena e semi-transparente “4€ por semana”. E é só, durante quantas semanas? Não diz. Receberei outros produtos durante as semanas em que pago os 4€, ou o dinheiro é simplesmente uma (justa) prestação infinita pela “máquina dos peidos”? Também não diz. E sinceramente é irrelevante, pois o anuncio e produto creio que dizem tudo o que há para dizer por si só.

 

sinto-me: perplexo
música: Breathe Under Water - Placebo

Segunda-feira, 25 de Maio de 2009

Natal contemporâneo (parte VIII)

 Nos dias que se seguiram Felipe continuou a observar o miúdo, durante o horário de expediente da sua gancheta. Era reconfortante para ele ver um pequeno homo sapiens, preferir a reflexão ás truanices dos demais.

 Mas outra coisa ocupava os pensamentos de Felipe. O último dia do seu calvário aproximava-se, e para despedida gloriosa o Pai Natal, iria atirar rebuçados e outros aglomerados de açúcar á população com menos de metro e meio, ao som da música “mexe-te como um molusco” o jingle promocional da mascote do centro: o “Mexilhão Brincalhão”, ao que parece todos os animais dignos já estavam escolhidos e não restou outra hipótese ao centro comercial se não recorrer ao poço fundo dos moluscos, e mesmo dentro dos moluscos nem podiam escolher um molusco dos bons, restavam-lhe as lapas, as santolas e os mexilhões. A grande questão na cabeça do alegado velhinho do pólo Norte era se fazia-lo com a indiferença juvenil e rebelde de Kurt Cobain, ou com a dignidade perante o cepo de Carlos I.

 Quando o fatídico momento chegou, Felipe pôde observar aquela potencial súcia numa patuscada berrante e insuportável, previsivelmente, o miúdo prodígio mantinha-se á parte de todo aquele chavascal. A sua indiferença fascinava e seduzia Felipe, da mesma maneira que aquele momento fascinava e seduzia as restantes crianças menos afortunadas intelectualmente. E aí, neste momento insólito, Felipe (talvez influenciado por todo aquele ajuntamento de fascínio) apercebeu-se de algo que iria mudar a sua maneira de ver a infância:

 

música: The crawl - Placebo
sinto-me: extenuado

Segunda-feira, 11 de Maio de 2009

Natal contemporâneo (parte VI)

Tudo aconteceu no seu oitavo dia de tortura. No meio de todos os recipientes de piolhos com pedidos banais (uns mais excêntricos que outros) ouve um pedido que se destacou dos demais, um desejo que revelou uma personalidade com potencial, um miúdo que se tornava um paradigma em potencial do ser humano, aos olhos de Felipe claro.

 Esse profeta em miniatura apareceu de tarde, e quando perguntado o que queria ele pelo Natal, o iluminado disse que: “queria saber porque estava vivo, e queria nunca ser como os outros meninos que não pensavam nisso e eram fáceis de enganar” e aproveitou para acrescentar que “não acreditava no Pai Natal e que o senhor é só um homem normal vestido de uma maneira engraçada”.

 Felipe reviu-se a si próprio naquela criança, as preocupações existenciais, o desprezo pelo resto da humanidade, a atitude snob, tudo naquele rapaz suscitava em Felipe uma adoração narcisista. Aquilo sim era um exemplo para a humanidade, aquilo sim era uma criança consciente, aquilo sim era um protótipo de uma sociedade inteligente. Tão novo e tão consciente pensou repetidas vezes Felipe, deleitado pela personagem que conhecera naquele dia.

 Nos dias seguintes Felipe (na sua posição privilegiada) observou os hábitos do miúdo (que era na realidade um habitué daquela superfície comercial) Filipe observou a sua maneira de andar, de mãos nos bolsos, olhos no chão, movimento lento e pesaroso e atitude melancólica, observou que tipo de montras o rapaz via, montras de livrarias, e olhava para os livros com fascínio, emitindo um suspiro que produzia o som “hmmpfh” e significava “quem me dera saber ler”, observava a maneira com que olhava com desdém e desinteresse para os outros miúdos, observava a maneira pensativa como o rapaz olhava para insectos mortos. E tudo isto fascinava Felipe, todo aquele brilhantismo em bruto fazia o seu espírito rejubilar, todas as semelhanças entre o miúdo e ele criavam um sentimento de ternura platónica e paternal e enchia-o de esperança de haver alguns mais iguais a eles.

 Até que um dia Felipe teve a oportunidade de falar com ele. A tarefa de um estranho ficar sozinho com uma criança pode parecer improvável, tendo em conta os índices de confiança no próximo actuais, mas torna-se muito mais simples quando esse mesmo estranho está trajado de um largo fato vermelho com gorro, barba postiça e botas de plástico. Bastou a Filipe oferecer-se como ama (usando o titulo de “funcionário do estabelecimento”) para que os progenitores, ávidos por um tempo a sós e de uma distracção do seu petiz de maneira que efectuassem as compras natalícias restantes. O miúdo acompanhava Felipe com passos inseguros e cautelosos, parecia que estudava aquele espécime vestido de forma tão peculiar, o miúdo observava a sua postura cabisbaixa, o seu rosto escarpado e sujo (pelo menos assim era a parte da sua cara não tapada por aquele aglomerado de pêlos sintéticos de baixa qualidade), o seu cheiro a fritos e suor, o seu andar vagaroso, desconfortável e cansado e a maneira ridícula com que lidava com aquela gigantesca e reles imitação de gordura na sua zona abdominal. O Pai Natal Filipe era uma aparição peculiar e cómica, a cara, como que sugada pela sua nuca, era repleta de rugas e muito escarpada, as barbas eram completamente

sinto-me: a recitar
música: Running up that hill - Placebo

Terça-feira, 28 de Abril de 2009

Natal contemporâneo (parte IV)

Felipe ficou perplexo, e como tal proferiu um chorrilho de situações que faziam prever tamanha afronta e também a inutilidade cerebral dos leitores daquele jornal. Depois de insultar os leitores do “Diário Matinal” com 7 impropério com mais de 5 sílabas, Felipe pensou na sua situação em termos monetários/nutritivos, sim porque apesar de douradinhos e refeições de microondas não ser propriamente um manjar dos deuses, eram o suficiente para permitir que os sinais vitais do escriba se mantivessem preguiçosamente activos. Com base nesses problemas Felipe perguntou em tom preocupado o que poderia fazer para adquirir aqueles tão desejados xelins.

 O director do jornal sossegou o seu colaborador dizendo que já tinha pensado no assunto, e que era bem capaz de ter encontrado uma solução para o mesmo. Segundo o director do jornal o tom de superioridade que Felipe dava aos seus textos produzia nos leitores um certo ódio, como tal seria uma vitória moral para os leitores ver alguém tão snob no que toca a valores e ideais humilhar-se para algum fim. Essa vitória moral provavelmente iria trazer vantagens ao Matinal na altura do escrutínio das bancas, e como tal umas moedinhas para o macaquinho do realejo.

 Preparando-se para disparatar efusivamente semelhante tal proposta, Felipe perguntou á sua cunha que tipo de “humilhação” estava a ser discutida.

 Hesitante o mago que transforma papel em informação, engonhou um discurso ensaiado que, encobria o facto de ele ter plena certeza da tarefa que queria que Felipe efectuasse com variados “não sei bem” e “não pensei ainda bem nisso” e ainda “alguém disse que”, até deixar escorrer pelos lábios as palavras que certamente iriam provocar um momento incrivelmente desagradável: “representares o papel de Pai Natal num centro comercial e escreveres sobre isso”.

 Após ouvir a profecia do distribuidor de saldo, Felipe repetiu por ordem aleatória os impropérios que á pouco tinha proferido, não conseguindo mesmo controlar alguns insultos mais usuais em tabernas de remotos meios rurais. Indignado de forma semelhante a alguém que é imposto um acordo pré-nupcial, Felipe desligou o telefone e concedeu-se alguns momentos para reflectir. Apesar da sua condição o impedir de cometer um acto de tamanha insensatez, necessidades básicas obrigavam-no a considerar a humilhante proposta. Será que era a vez dele de rastejar na metafórica lama, imitando todos aqueles vermes desprovidos de coluna vertebral que ele tanta escória reservava. Infelizmente aquela era uma situação de terceiro excluído, por muito que ele criticasse a situação nas suas crónicas, os boémios beócios continuariam a ter a satisfação de ele estar a fazer aquilo, se pelo contrário reporta-se uma ode á profissão de alegado Pai Natal iria provar que estava errado, resumindo ou vendia a alma ao diabo em troca de umas quantas porções de alimento deprimente, ou mantinha-se digno e aceitava com honra a anorexia que o esperava.

 

sinto-me: perplexo
música: Any means necessary - Hammerfall

.este tarado tem identidade (veja aqui qual)

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