Quinta-feira, 14 de Maio de 2009

Natal contemporâneo (parte VII)

 

 

 

 

 

Breve nota editorial: como talvez já se aperceberam, isto não se vai alongar para doze partes, deve quedarse nas oito ou nove

 

 

O Pai Natal Filipe era uma aparição peculiar e cómica, a cara, como que sugada pela sua nuca, era repleta de rugas e muito escarpada, as barbas eram completamente desproporcionais ao tamanho do seu crânio, o peito era praticamente inexistente, o que fazia a prótese abdominal sobressair forma exageradamente deslocada, as pernas bamboleavam dentro das generosas calças xxl e as botas achinelavam produzindo um som tão agudo que, por vezes, apenas os cães o conseguiam ouvir.

 Como estava na sua pausa de almoço (um momento off camera do seu trabalho para o jornal) Felipe ofereceu a refeição ao garoto, garantindo-lhe qualquer iguaria que não ultrapassasse a módica quantia de seis euros. O miúdo pediu um hamburger e um refrigerante de sabor artificial e indecifrável, Felipe desejou douradinhos com arroz e água da torneira, apesar de ter meios para pedir um manjar diferente de 70% das suas refeições, Felipe não se sentiu no direito de pregar tamanho susto ás suas papilas gustativas.

 Depois dos cumprimentos burocráticos, Felipe iniciou um chorrilho de perguntas existencialistas, disfarçando-as da melhor e mais pedagógica maneira que lhe ocorreu: em vez de perguntar: “aceita a existência de um Deus?” perguntou: “acreditas em Jesus?”, em vez de perguntar: “acredita na vida após a morte?” perguntou:”o que queres ser quando fores morto?”, em vez de perguntar “o que julga do rumo que a sociedade do século XXI está a tomar? Não julga que nos estmaos a caminhar par um relativismo e ambiguidade cultural?” perguntou “o que achas nos outros meninos? São um bocado burros não são?” (Felipe não era a pessoa mais pedagógica convenhamos).

 E todas as respostas do miúdo o fascinavam gradualmente mais um bocadinho, nunca assistira a semelhante potencial, tanto realismo, tanta consciência melancólica e deliciosa, tanta apatia desistente, tanto espírito de mártir. Felipe deu por si a desejar coma ardência poder assistir ao desabrochar daquele bolbo tão rico.

 Para o miúdo era giro ver a aquele falso ídolo do meio onde ele próprio se inseria (era assim que via o Pai Natal) a comer com ele numa apertada mesa para dois num centro comercial, a deixar cair migalhas amareladas no chão, a sujar a manga do fato com ketchup, a coçar discretamente a pele irritada por aquele material sintético que certamente lhe ira provocar a mais épica das alergias. A crème de la crème foi quando o Pai Natal fumou deliberadamente á frente de uma criança, e tossiu compulsivamente expelindo pelos lábios o mais asqueroso dos escarros.

 Aquele encontro deixou Felipe num estado de espírito bastante aproximado da alegria, longe do falso nirvana que era obrigado a assistir diariamente por aqueles dias, mas estava relativamente feliz ainda assim.

 

sinto-me: editor
música: Ornatos Violeta - Dama do sinal

Sábado, 18 de Abril de 2009

Natal contemporâneo (parte II)

"Um desses acontecimentos era a época natalícia, acontecimento que lhe centrifugava as entranhas. Não que fosse um fanático religioso, adorador de um qualquer deus insólito com a forma de um suíno alado. Longe disso, Felipe considerava a existência de um Deus, não tinha no entanto nenhuma certeza sobre a sua forma, mas gostaria que fosse uma mistura entre Marilyn Monroe e Dona Isabel quiçá com uns traços da Vénus de Milo. Nem era o consumismo desenfreado que mais lhe pontapeava a alma, o que destabilizava o seu temperamento era o espírito natalício em si, aquela “parada decrépita de alter-egos excessivamente amáveis” a “emancipação do ateísmo cultural” a “celebração da sagrada festividade profana” e a “artificial musculatura moral”.

 Eram infindáveis os aspectos daquela época que revoltavam o frustrado espírito de Felipe, céptico no que toca á exuberância e frio analisador dos comportamentos humanos considerava o bruaá da época exacerbado e falso. Achava o facto da discussão “consumismo/valores morai e religiosos” se repetir todos os anos patético. Porque na realidade toda a gente julgava (ou dizia julgar) o excessivo consumismo da época perigoso e despropositado, no entanto toda a gente achava que pertencia a um pequeno grupo de “iluminados” que não se deixavam engolir pelos vis maxilares nas multinacionais, e como tal tinham que espelhar a mensagem TODOS os anos a TODA a gente que pudessem (de preferência num centro comercial onde estão todos os “cegos”, aproveita-se e acaba-se as compras de Natal).

 Felipe julgava também todas as manifestações “artísticas” (se não for hiperbólico considerar aquilo de “artístico”) hediondas. Milhares de músicas/filmes/poemas comerciais e enlatados, tão cheios de conteúdo como o estômago de um maratonista queniano, farpas ao nosso bom gosto e á nossa sanidade mental. Felizmente Felipe tinha discernimento suficiente para não se deixar estupidificar como o resto da populaça saltitante."

 

música: Half the man i use to be - Stone Temple Pilots
sinto-me: Apático

Domingo, 12 de Abril de 2009

Aparentemente tal é possivel (Natal Contêmporaneo, parte I)

Gosto de comparar este blog com a actividade sexual de um casal sexagenário, parece acabada e jazente, mas pelas alturas da Páscoa revive, para celebrar o renascimento do filho do criador.

 

Depois de vos propocionar com uma imagem tão bonita (a actividade sexual dos velhinhos, não o renascimento do Messias, se bem que se quiserem conjugar ambas tudo bem, é a vossa sanidade mental, não a minha) afirmo com o peito a rebentar de brio, e o ego tão insuflado que me faz levitar, que pedagogos de sensatez duvidosa consagraram o "yours truly" como vencedor de um concurso literário.

 

Bem sei que tal acontecimento aconteceu no passado mês de Dezembro, mas só agora o ego me permitiu assentar os gluteos em frente ao pc e comunicar a vós a boa nova.

 

Como tal achei por bem publicar aqui esse meu produto, de forma a poder compartilhar com um publico mais vasto que os juris do concurso e toda a gente que passa próximo da Junta da Freguesia da Grotfunda entre as 13 e as 16 horas onde eu proclamo o texto num mégafone interrompendo cada frase com a expressão "ganhei".

 

Devido á sua extensão vou dividir o texto em 12 partes, de forma a torná-la mais "user friendly", desculpem também algumas gralhas editoriais. E para aqueles que se perguntam "como é humanamente possivél que alguém que usa a cópula entre sexagenários como figura de estilo ganhe o que quer que seja no campo literário?" Aceitem isso como um dos belos e dantescos paradoxos da vida.

 

Sem mais delongas:

 

"Felipe Serda era um homem por volta dos seus trinta anos, atormentado desde cedo pelas alcunhas que lhe deram na sua infância (nomes que rimem com “fezes” em terminologia popular, são geralmente os predilectos de infantes cruéis que se satisfazem com a humilhação dos demais), possuidor de um patético físico subnutrido e de peles moles (típico de um fumador crónico) tinha por volta de 1,73m e a sua cara era escarpada e possuidora de uma barba na sua generalidade rala, a menos que o ócio se apodera-se da sua mente de tal forma que lhe impedisse de passar uma lâmina de idade considerável pela face protegida apenas por uma espuma de barbear de confiança questionável.

 Felipe Serda era o que alguns denominariam de “pseudo-intelectual arrogante, inútil e frustrado”, o próprio preferia intitular-se de “revoltado apático, presunçoso o suficiente para reconhecer o seu próprio talento, mas não egocêntrico ao ponto de não considerar duas versões diferentes sobre a mesma realidade”. Apesar de uma licenciatura em antropologia, os estudos de Felipe eram maioritariamente auto-didácticos, estudos esses que, se infiltraram tão promiscuamente na vida de Felipe que se tornaram num hobbie. Como snob assumido que era Felipe gostava do que era previamente aprovado por alguma identidade que ele (e outros da sua estripe) considerassem uma autoridade no assunto.         

 Felipe não tinha emprego, era “intencionalmente desocupado”, vivia de dinheiro da família, uma ou outra herança e a casa era dos pais, que entretanto encontraram num resort luxuoso, (que em semelhança a todas as edificações do género, têm um aspecto disciplinado de casas tão idênticas que sugerem um arquitecto neo-nazi contemporâneo) que tinha como função entorpecer as mentes cansadas dos mais velhos, de forma a que os mesmos descansassem sem se exaltarem sobre o facto de estarem quase a ter a função de “adubo biológico e não nocivo para o ambiente”, um lar. Felipe ganhava também uns xelins pelos seus textos de opinião para um jornal local, não considerava essa tarefa como uma profissão, visto que os seus textos eram esporádicos e a sua convenção coincidia única e exclusivamente com um acontecimento que lhe proporciona-se qualquer estado de espírito que não a completa apatia."

 

sinto-me: A flutuar
música: Tall Boy - Akeboshi

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