Uma das mais estranhas particularidades do ser humano é a vontade de ler na casa de banho.
A grande maioria da população humana gosta de ler na casa de banho. O que dá a sensação que estamos á espera que as nossas funções mais básicas se realizem por si só. Será que desconhecemos assim tanto o nosso organismo, que temos que ir á casa de banho e esperar, durante tanto tempo que mais vale levar qualquer coisa para ler, para que as mais básicas funções se efectuem? Por vezes creio que as pessoas nem têm vontade de ir á casa de banho, estão apenas lá “pelo sim pelo não” daí a necessidade de levar algo para ler, caso contrário seria muito aborrecido.
O que também me espanta é que, após efectuadas as básicas funções, as pessoas continuem na casa de banho a ler. Muitas das vezes as pessoas têm oportunidade de ler num local com cadeiras mais confortáveis, melhor ambiente e menos cheiro a urina (a menos que vivam na Amadora) e continuam a ler na casa de banho. Porquê? Eu ainda compreendo se a leitura for algo de embaraço extremo, como uma revista pornográfica, ou um livro da Margarida Rebelo Pinto. Mas pensando bem, quem é tão narcisista ao ponto de “ler” revistas pornográficas numa casa de banho durante mais de 45 minutos? E todos nós sabemos que os apreciadores de Margarida Rebelo Pinto defecam publicamente pelo intermédio de frases.
Esse sinal de pontuação é as reticências.
Para já porque, que quer que seja que teve a brilhante ideia (e nada de ironia nesta adjectivação, ou nesta ultima a dizer que a anterior não continha ironia, ou mesma esta…) não se deu ao trabalho de inventar um símbolo novo, não limitou-se a repetir um símbolo já existente três vezes, símbolo esse que por sua vez trata-se do símbolo mais básico de todos (…)
E porque é que eu gosto tanto das reticências, porque fazem a metamorfose de uma frase normal para uma frase com sentido perverso.
Senão vejamos:
“Mas que bela filha que vocês têm, anda cá dar um beijinho ao Jonas anda, ai és tão docinha meu amor, ohh que foi? Não chora, não chora”
Agora a mesma frase mas com reticências:
“Mas que bela filha que vocês têm, anda cá dar um beijinho ao Jonas anda… Ai és tão docinha meu amor… Ohh que foi? Não chora, não chora…”
Mas não nos fiquemos apenas pelo cliché da alegre chalaça sexual, não, as reticências vão muito além disso, vejamos o seguinte exemplo:
“Então e o vosso papá, ainda vive o malandro? Aquilo é que é um homem rijo pá, depois daqueles terríveis acidentes, e o desastre com o gás, ele continua rijo como um pêro o sacana. Tá aí para durar o vosso papá”
Ou:
“Então e o vosso papá, ainda vive o malandro… Aquilo é que é um homem rijo pá… Depois daqueles… Terríveis acidentes… E o desastre com o gás… Ele continua… Rijo como um pêro… O sacana. Tá aí para durar o vosso papá”
E só mais um exemplo para terminar:
“ Então compraste algo da Margarida Rebelo Pinto? Muito bem, é bom apoiar a literatura nacional. E ela tem realmente umas observações muito interessantes sobre a condição humana e os condicionalismos emocionais das relações.”
“Então compraste … algo da Margarida Rebelo Pinto? Muito bem, é bom apoiar a … escrita nacional. E ela tem realmente umas observações muito… interessantes sobre a…”
Se á coisa que me intriga são os pisa-papéis.
Intriga-me o facto da humanidade ter criado algo cuja única utilidade é ficar em cima de papel. Quem será o autor de semelhante invenção? Que triste e perturbada mente pensou: “o que falta neste mundo são coisas para ficar em cima de papel”.
O pisa-papéis é tão inútil, que ninguém compra um pisa-papéis para o utilizar. Nunca ouvimos nenhuma pessoa a dizer: “Epá preciso mesmo de um pisa-papéis, ainda ontem não tinha nada em cima dos papéis veio uma rachada de vento e os papeis ficaram todos desordenados, estou mesmo a precisar de alguma coisa que seja criada especificamente para por em cima de papel”.
Não, as pessoas não pensam assim. Quando alguém compra um pisa-papéis compra para oferecer a alguém. Mas que bela oferta que é um pisa-papéis: “muito obrigado por este presente, para que serve?”
“Para por em cima de papéis de forma a que eles não esvoacem na eventualidade de uma ocasional rajada de vento”.
“Obrigado, era mesmo o que eu queria.”
É obvio que ninguém oferece um pisa-papéis a alguém especial. Nunca vemos ninguém nas lojas ziguezagueando a uma velocidade estonteante e a pregar a alto e bom som “preciso de um pisa-papéis, o meu pai faz anos amanhã e tenho a certeza que ele está desejoso por ter um, tenho que encontrar um pisa-papéis, PRECISO DE UM PISA-PAPÉIS”. Não, uma pessoa quando oferece um pisa-papéis a alguém é mais ou menos nesta ordem de ideias:
“Não tenho outro remédio senão presentear este indivíduo. Olha um objecto para por em cima de papel, é mesmo isto.”
Toda esta problemática é afectada pelo facto de tudo ser um pisa-papéis. Por exemplo:
Um pedregulho é um pedregulho.
Um pedregulho pintado de vermelho é um pisa-papéis.
Um livro é um livro.
Um livro da Margarida Rebelo Pinto é um pisa-papéis.
E assim sucesivamente…
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