Se há coisa que as instituições que traduzem os títulos dos filmes para português nos habituaram, essa coisa é a mediocridade.
Alguns de vocês, mais incendiários, extremistas e quiçá exagerados acrescentariam também o ridículo, e têm razão.
Bons exemplos disso mesmo são as seguintes traduções:
“Little miss Sunshine“ |
(o título refere-se a um concurso de “misses” para crianças, não é comum em Portugal mas algo como “A pequena miss” ou “A menina mais bonita” seria preferível à atrocidade escolhida) |
“Uma família á beira dum ataque de nervos” |
“Harold and Kumar go to Guanthanamo” |
(este filme faz parte duma série de filmes onde as personagens principais são sempre o Harold e o Kumar, porque não fazer uma tradução literal e dar o título de “Harold e Kumar vão a Guantanamo” ? |
“Grande moca meu” |
“The men who stare at goats” |
« O homem que fixa cabras » |
“Homens que matam cabras só com o olhar” |
“Forgetting Sarah Marshall” |
“Esqueçendo Sarah Marshall” |
“Um belo par… de patins” |
“Humpday” |
(o filme fala de dois amigos heterossexuais que decidem protagonizar um porno, um com o outro, uma tradução literal (“Dia para montar”) seria jogar pelo seguro (visto que o cartaz são dois homens sem camisa deitados numa cama, as pessoas iam perceber) mas não…) |
“Deu para o torto” |
“Get him to the Greek” |
(aqui “Greek” refere-se ao “Greek Theather” nos USA, o que impede uma tradução literal, mas visto que o filme é sobre levar uma estrela de rock a um concerto, porque não “Leva-lo para o concerto”, problema referencial resolvido) |
“É muito rock meu” |
“Knocked Up” |
“Grávida” |
“Um azar do caraças” |
É claro que existem também traduções não atrozes, algumas até um bocado hábeis (“Teenwolf” – “Lobijovem”), o que me faz pensar em possíveis títulos alternativos que, quase que certamente, pairaram sobre a cabeça dos nossos extraordinários criativos:
Título Original |
Título em Portugal |
Possíveis atrocidades |
“The Godfather” |
“O Padrinho” (era difícil) |
“O Poderoso chefão” (título que recebeu no Brasil) “Uma família à Italiana” “Família... família... negócios à parte” |
“Teenwolf” |
“Lobijovem” |
“Uma questão de pêlo” “Um miúdo com garra” |
“Titanic” |
“Titanic” |
“O barco do amor” “Paixão em alto mar” |
“Gone with the wind” |
“E tudo o vento levou” |
“A noviça rebelde” (mais uma vez, o título que recebeu no Brasil) “Bicicletas” |
“Godzilla” |
“Godzilla” |
“Lagarto gigante” “Monstro verde Destruidor” "Destruição em Nova Yorke" |
Se á coisa que me fascina desde pequenino são os guiões de filmes pornográficos.
(aviso: após um principio como este, a qualidade deste post só se pode equiparar ás letras de canções dos anos 70, por isso a menos que a sua capacidade de compreensão não ultrapasse a frase “estão a chover homens”, estarão por sua conta e risco.)
E o que me fascina nos filmes pornográficos? Perguntam todos vocês que não demonstram um sorriso de esguelha, olhos esbugalhados e respiração ofegante.
O que me fascina nos filmes pornográficos, para além de mamas grandes, é que num guião pornográfico tudo pode acontecer.
Mas absolutamente tudo. Não há regras, tudo é permitido, o que não acontece em nenhum outro tipo de filme. Mesmo as ficções fictícias mais tresloucadas, têm o mínimo de respeito pela condição humana, e pela sua forma de pensar (sim até os filmes do Steven Seagal).
Por outro lado, a pornografia não se preocupa com isso, e passo a demonstrar alguns exemplos entre as abismais diferenças entre os guiões pornográficos, e os demais:
Situação
“Sala de reuniões, membros de ambos os sexos, entra um secretário(a), entorna café no(a) chefe”
Estilo de filmes
(aviso: vou partir do principio que todos os filmes que vou apresentar com esta hipótese são rasca, se estavam á espera de algo com classe e sofisticado, não deviam ler um post que tem como primeira frase “Se á coisa que me fascina desde pequenino são os guiões de filmes pornográficos”)
Drama – Existem duas hipóteses generalizadas, ou o secretário(a) é despedido(a), situação que provocará grandes distúrbios na sua vida; ou a reunião corre muito mal por causa desse incidente e o acordo, crucial para a sobrevivência da empresa, não é selado.
Comédia – Toda a gente olha para o secretário que acidentalmente aterrou com a cabeça no colo de um figurante masculino, a acção a partir daqui pode bifurcar-se: ou o figurante é uma pessoa conservadora e olha para o secretário com olhos escandalizados; ou o figurante é homossexual e olha para o secretário com olhos luxuriosos.
Romance – O secretário(a) tenta limpar atrapalhadamente as calças do(a) chefe, até olhá-lo(a) nos olhos, sorrirem 5 segundo um para o outro sem desviar o olhar até o secretário(a) sair da sala.
Acção – O café era afinal uma solução tóxica que irá matar toda a gente dentro de 10 minutos, é nessa altura que entra o Steven Seagal de moto, partindo a vitrine da sala de reuniões, nessa altura o chefe grita “isso custou-me 100 mil dólares”, o Seagal grita para toda a gente evacuar a sala pela vitrine furada, aponta uma Mac10 para o secretário(a) diz “o café tá quente” e dispara compulsivamente, depois chama uma equipa de intervenção para fechar o lugar, e parte no meio da noite para lugar incerto.
Pornográfico – Todos os membros da sala são apenas mulheres, todas elas têm mamas grandes, entra o secretário, entorna o café, a chefe diz “menino mau, vai levar tau-tau”, dito isso a chefe bate vagarosamente nos glúteos do secretário, as outras pessoas na sala não são meros figurantes, visto que de repente sentiram o desejo incompressível de se beijarem. E está dado o mote para uma muito agradável orgia.
Exposto o meu ponto de vista irei apresentar a minha primeira história para um filme pornográfico.
Afinal o cão está vivo
“Afinal o cão está vivo” é uma história de amor, compaixão, compreensão e bestialidade.
Cena 1
Uma vulgar dona de casa, com mamas grandes, com uma idade que ronda os 30 anos, está a efectuar uma banalíssima viagem de reabastecimento ao supermercado, e como é custo-me nessas viagens, ela traja um largo porém curto vestido com um ar gasto, e não se deu ao trabalho de vestir roupa interior.
No seu caminho a mesma dona de casa vê um pastor alemão escarrapachado no chão, esse cão emana um cheiro pútrido, o coração dessa dona de casa enchesse de compaixão e decide levar o cão aparentemente morto para um restaurante chinês, onde teria um fim mais digno, fim esse que seria acompanhado com vegetais variados.
Decidida a cumprir a promessa que fizera a si própria, de dignificar esse canídeo, ela coloca-o ás suas costas e faz-se á estrada… Mas a meio caminho a doce dona de casa sente uma pressão nas suas costas, uma pressão tão forte que ela e obrigada de pôr-se de gatas, por alguma estranha razão ela despe-se e exclama “meu Deus, afinal o cão está vivo”
Repete-se a cena com diferentes donas de casa e cães, na cena 3 ninguém explica porque é que a amiga da dona de casa colocou a cara da sua amiga entre as suas coxas em vez de chamar ajuda, e temos um filme, quiçá com direito a sequela
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