Terça-feira, 28 de Abril de 2009

Natal contemporâneo (parte IV)

Felipe ficou perplexo, e como tal proferiu um chorrilho de situações que faziam prever tamanha afronta e também a inutilidade cerebral dos leitores daquele jornal. Depois de insultar os leitores do “Diário Matinal” com 7 impropério com mais de 5 sílabas, Felipe pensou na sua situação em termos monetários/nutritivos, sim porque apesar de douradinhos e refeições de microondas não ser propriamente um manjar dos deuses, eram o suficiente para permitir que os sinais vitais do escriba se mantivessem preguiçosamente activos. Com base nesses problemas Felipe perguntou em tom preocupado o que poderia fazer para adquirir aqueles tão desejados xelins.

 O director do jornal sossegou o seu colaborador dizendo que já tinha pensado no assunto, e que era bem capaz de ter encontrado uma solução para o mesmo. Segundo o director do jornal o tom de superioridade que Felipe dava aos seus textos produzia nos leitores um certo ódio, como tal seria uma vitória moral para os leitores ver alguém tão snob no que toca a valores e ideais humilhar-se para algum fim. Essa vitória moral provavelmente iria trazer vantagens ao Matinal na altura do escrutínio das bancas, e como tal umas moedinhas para o macaquinho do realejo.

 Preparando-se para disparatar efusivamente semelhante tal proposta, Felipe perguntou á sua cunha que tipo de “humilhação” estava a ser discutida.

 Hesitante o mago que transforma papel em informação, engonhou um discurso ensaiado que, encobria o facto de ele ter plena certeza da tarefa que queria que Felipe efectuasse com variados “não sei bem” e “não pensei ainda bem nisso” e ainda “alguém disse que”, até deixar escorrer pelos lábios as palavras que certamente iriam provocar um momento incrivelmente desagradável: “representares o papel de Pai Natal num centro comercial e escreveres sobre isso”.

 Após ouvir a profecia do distribuidor de saldo, Felipe repetiu por ordem aleatória os impropérios que á pouco tinha proferido, não conseguindo mesmo controlar alguns insultos mais usuais em tabernas de remotos meios rurais. Indignado de forma semelhante a alguém que é imposto um acordo pré-nupcial, Felipe desligou o telefone e concedeu-se alguns momentos para reflectir. Apesar da sua condição o impedir de cometer um acto de tamanha insensatez, necessidades básicas obrigavam-no a considerar a humilhante proposta. Será que era a vez dele de rastejar na metafórica lama, imitando todos aqueles vermes desprovidos de coluna vertebral que ele tanta escória reservava. Infelizmente aquela era uma situação de terceiro excluído, por muito que ele criticasse a situação nas suas crónicas, os boémios beócios continuariam a ter a satisfação de ele estar a fazer aquilo, se pelo contrário reporta-se uma ode á profissão de alegado Pai Natal iria provar que estava errado, resumindo ou vendia a alma ao diabo em troca de umas quantas porções de alimento deprimente, ou mantinha-se digno e aceitava com honra a anorexia que o esperava.

 

música: Any means necessary - Hammerfall
sinto-me: perplexo

Domingo, 26 de Abril de 2009

Natal contemporâneo (parte III)

 Esta época era no entanto bastante rentável para o nosso intrépido revoltado apático. Eram em tempos de euforia que ele mais escrevia, e por consequente mais recebia, durante o Natal Felipe tinha por hábito escrever algo que ele pomposamente chamava de “15 dias de elucidação”. Ou seja, entre 10 e 25 de Dezembro, Felipe escrevia textos de opinião a salientar aspectos que o irritavam particularmente durante a época, tentando assim elucidar as pessoas da sua escuridão colorida, da sua alegria de plástico, e tentar fazer com que a verdadeira idiossincrasia da sociedade se expusesse (a verdadeira idiossincrasia da sociedade era curiosamente tão frustrada como ele próprio). Estes 15 textos mantinham-no alimentado de comida congelada e arroz pré-feito durante a época carnavalesca (outra altura produtiva), o saldo da época carnavalesca conservavam o seu estado de nutrição até á Páscoa (onde a musa, um bocadinho mais anafada inspirava a sua mente), com o rendimento da Páscoa mantinha-se no mundo dos vivos até ao Verão, e depois do Verão, comendo douradinhos com arroz de tomate refeição sim/refeição talvez, Felipe conseguia pavonear as suas carnes até ao Natal completando o ciclo vicioso, é claro os seus vícios pelo (melhor) café e tabaco (possíveis) limitavam-no o número de banhos, mas também intelectualóide que é intelectualóide tem o belo cheiro a frustração (uma mistura entre mofo, suor e pó).

 Com base no seu estilo de vida, dia 9 de Dezembro, Felipe já tinha 4 textos prontos a publicar e os outros 11 na forja, orgulhava-se particularmente dum deles onde dissecava, analisava, achincalhava e arrasava por completo com a habitual chalaça sexual “boas festas… pelo corpo todo”, sim não havia ano em que um qualquer troglodita lhe enviava semelhante impropério tanto á instituição festiva como á instituição das carícias.

 Derivado a pérolas literárias como aquela, Felipe ficou satisfeito quando o director do jornal o contactou, a conversa que se seguiu é que não foi do seu agrado…

 Segundo o director (que se baseava numa sondagem feita recentemente), a imagem de Felipe perante aos leitores era a de: “um patético e deprimido homenzinho que, não sendo possuidor de vida própria diverte-se a tentar infernizar a vida dos demais, com aquela escória impressa a toner negro de impressora, a que o leitor (por pura e magnânima gentileza) apelida generosamente de texto” alguns iam mais longe e afirmavam que “Felipe Serda precisa de uma coisa que eu cá sei (e por “coisa que eu cá sei” referiam-se a sexo)”.

 

sinto-me: precisando de uma coisa...
música: Guilty Pleasure - Cobra Straship

Sábado, 18 de Abril de 2009

Natal contemporâneo (parte II)

"Um desses acontecimentos era a época natalícia, acontecimento que lhe centrifugava as entranhas. Não que fosse um fanático religioso, adorador de um qualquer deus insólito com a forma de um suíno alado. Longe disso, Felipe considerava a existência de um Deus, não tinha no entanto nenhuma certeza sobre a sua forma, mas gostaria que fosse uma mistura entre Marilyn Monroe e Dona Isabel quiçá com uns traços da Vénus de Milo. Nem era o consumismo desenfreado que mais lhe pontapeava a alma, o que destabilizava o seu temperamento era o espírito natalício em si, aquela “parada decrépita de alter-egos excessivamente amáveis” a “emancipação do ateísmo cultural” a “celebração da sagrada festividade profana” e a “artificial musculatura moral”.

 Eram infindáveis os aspectos daquela época que revoltavam o frustrado espírito de Felipe, céptico no que toca á exuberância e frio analisador dos comportamentos humanos considerava o bruaá da época exacerbado e falso. Achava o facto da discussão “consumismo/valores morai e religiosos” se repetir todos os anos patético. Porque na realidade toda a gente julgava (ou dizia julgar) o excessivo consumismo da época perigoso e despropositado, no entanto toda a gente achava que pertencia a um pequeno grupo de “iluminados” que não se deixavam engolir pelos vis maxilares nas multinacionais, e como tal tinham que espelhar a mensagem TODOS os anos a TODA a gente que pudessem (de preferência num centro comercial onde estão todos os “cegos”, aproveita-se e acaba-se as compras de Natal).

 Felipe julgava também todas as manifestações “artísticas” (se não for hiperbólico considerar aquilo de “artístico”) hediondas. Milhares de músicas/filmes/poemas comerciais e enlatados, tão cheios de conteúdo como o estômago de um maratonista queniano, farpas ao nosso bom gosto e á nossa sanidade mental. Felizmente Felipe tinha discernimento suficiente para não se deixar estupidificar como o resto da populaça saltitante."

 

sinto-me: Apático
música: Half the man i use to be - Stone Temple Pilots

Domingo, 12 de Abril de 2009

Aparentemente tal é possivel (Natal Contêmporaneo, parte I)

Gosto de comparar este blog com a actividade sexual de um casal sexagenário, parece acabada e jazente, mas pelas alturas da Páscoa revive, para celebrar o renascimento do filho do criador.

 

Depois de vos propocionar com uma imagem tão bonita (a actividade sexual dos velhinhos, não o renascimento do Messias, se bem que se quiserem conjugar ambas tudo bem, é a vossa sanidade mental, não a minha) afirmo com o peito a rebentar de brio, e o ego tão insuflado que me faz levitar, que pedagogos de sensatez duvidosa consagraram o "yours truly" como vencedor de um concurso literário.

 

Bem sei que tal acontecimento aconteceu no passado mês de Dezembro, mas só agora o ego me permitiu assentar os gluteos em frente ao pc e comunicar a vós a boa nova.

 

Como tal achei por bem publicar aqui esse meu produto, de forma a poder compartilhar com um publico mais vasto que os juris do concurso e toda a gente que passa próximo da Junta da Freguesia da Grotfunda entre as 13 e as 16 horas onde eu proclamo o texto num mégafone interrompendo cada frase com a expressão "ganhei".

 

Devido á sua extensão vou dividir o texto em 12 partes, de forma a torná-la mais "user friendly", desculpem também algumas gralhas editoriais. E para aqueles que se perguntam "como é humanamente possivél que alguém que usa a cópula entre sexagenários como figura de estilo ganhe o que quer que seja no campo literário?" Aceitem isso como um dos belos e dantescos paradoxos da vida.

 

Sem mais delongas:

 

"Felipe Serda era um homem por volta dos seus trinta anos, atormentado desde cedo pelas alcunhas que lhe deram na sua infância (nomes que rimem com “fezes” em terminologia popular, são geralmente os predilectos de infantes cruéis que se satisfazem com a humilhação dos demais), possuidor de um patético físico subnutrido e de peles moles (típico de um fumador crónico) tinha por volta de 1,73m e a sua cara era escarpada e possuidora de uma barba na sua generalidade rala, a menos que o ócio se apodera-se da sua mente de tal forma que lhe impedisse de passar uma lâmina de idade considerável pela face protegida apenas por uma espuma de barbear de confiança questionável.

 Felipe Serda era o que alguns denominariam de “pseudo-intelectual arrogante, inútil e frustrado”, o próprio preferia intitular-se de “revoltado apático, presunçoso o suficiente para reconhecer o seu próprio talento, mas não egocêntrico ao ponto de não considerar duas versões diferentes sobre a mesma realidade”. Apesar de uma licenciatura em antropologia, os estudos de Felipe eram maioritariamente auto-didácticos, estudos esses que, se infiltraram tão promiscuamente na vida de Felipe que se tornaram num hobbie. Como snob assumido que era Felipe gostava do que era previamente aprovado por alguma identidade que ele (e outros da sua estripe) considerassem uma autoridade no assunto.         

 Felipe não tinha emprego, era “intencionalmente desocupado”, vivia de dinheiro da família, uma ou outra herança e a casa era dos pais, que entretanto encontraram num resort luxuoso, (que em semelhança a todas as edificações do género, têm um aspecto disciplinado de casas tão idênticas que sugerem um arquitecto neo-nazi contemporâneo) que tinha como função entorpecer as mentes cansadas dos mais velhos, de forma a que os mesmos descansassem sem se exaltarem sobre o facto de estarem quase a ter a função de “adubo biológico e não nocivo para o ambiente”, um lar. Felipe ganhava também uns xelins pelos seus textos de opinião para um jornal local, não considerava essa tarefa como uma profissão, visto que os seus textos eram esporádicos e a sua convenção coincidia única e exclusivamente com um acontecimento que lhe proporciona-se qualquer estado de espírito que não a completa apatia."

 

música: Tall Boy - Akeboshi
sinto-me: A flutuar

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